Mostra de Cinema Marginal

DOIS ICONOCLASTAS E UMA MUSA

A Associação Brasileira de Documentaristas – Seção Goiás (ABD-GO) mais uma vez inova ao trazer um dos mais importantes movimentos do cinema brasileiro à Goiânia. Em parceria com a Cara Vídeo, Sebrae-Goiás e a Secretaria Municipal da Cultura, realizam de 24 de setembro a 04 de outubro a mostra “Cinema Marginal: dois iconoclastas e uma musa”, no Cine Goiânia Ouro, com estréias às 20 horas e reapresentações às 12h30 e às 15 horas, como parte das atividades paralelas do 3º Festival de Cinema Brasileiro de Goiânia.

Cinema Marginal é um termo utilizado para definir um período que compreende o fim da década de 60 até o início da década de 80 e é marcado por realizações extremamente autorais e contestadoras do regime sócio-político da época.

A “Mostra de Cinema Marginal: dois iconoclastas e uma musa” irá apresentar a filmografia dos principais realizadores que representam esse período e homenagear a principal atriz do movimento: os diretores Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci e a intérprete Helena Ignez. Estarão presentes na mostra Tonacci e Ignez para darem palestra sobre suas histórias de vida dedicada ao cinema brasileiro.

Será publicado um catálogo com a história do cinema marginal, entrevistas com os palestrantes e documentário sobre o evento.

História

O cinema marginal surgiu no Bairro de Santa Ifigênia, centro de São Paulo, na chamada Boca do Lixo, local que foi assim chamado pela crônica policial dos anos 20, devido à promiscuidade existente nas proximidades da Estação da Luz e Júlio Prestes.

As distribuidoras cinematográficas que se estabeleceram justamente em duas ruas próximas – Vitória e Triunfo – para facilitar o envio de filmes para o território nacional. Em decorrência dos incentivos do instituto nacional do cinema (INC), a Boca do Lixo se tornou centro de produção a partir de 1967 com sede nessa mesma região. Surgia, assim, o ambiente do cinema marginal

O cinema marginal recebeu várias denominações, entre as quais udigrudi (avacalhação do underground americano inventado por Glauber Rocha), cinema marginalizado, cinema de poesia, cinema de invenção, experimental, alternativo. Mas, como afirma o crítico e pesquisador Jean-Claude Bernadet, “essas expressões não pegaram e Cinema Marginal tinha um trunfo poderoso: o título do filme de Ozualdo Candeias, A Margem, o primeiro a ser incluído no movimento”.

O filme de Candeias iria inspirar a maioria dos realizadores que surgiram depois, como Andrea Tonacci e Rogério Sganzerla e suas principais obras: Bang-Bang O Bandido da Luz Vermelha, respectivamente.

Júlio Bressane, Elizeu Visconti e Neville d´Almeida, no Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, Sylvio Lanna, com Sagrada Família. Em Salvador, André Luis de Oliveira, com Meteorango Kig. São nomes que compõem a história do movimento que tem como característica o deboche e a chamada “curtição”.

Vera Haddad, em O cinema marginal e suas fronteiras, afirma que “são filmes produzidos por cineastas que, através do experimental, encontraram um caminho eficiente de realizá-los e, despreocupados com as tradicionais e bem-comportadas fórmulas narrativas e estéticas, conseguiram com poucos recursos extravasar seus anseios”.